“Não que
eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo
para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo
Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma
coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando
para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o
prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3:12-14
Esse é um texto poderoso e assustador ao
mesmo tempo. Refletindo na vida de Paulo e em sua fiel e
incessante determinação em alcançar seu alvo retenho boas questões
para meu confronto pessoal e talvez você encontre algum para o seu. Em
primeiro lugar, Paulo está num ponto da caminhada onde já havia
alcançado coisas que para muitos hoje, principalmente os que servem na
obra de Deus, poderiam considerar como objetivo alcançado.
Paulo já
havia experimentado livramentos milagrosos de cárcere, de afogamento, de
açoites, de morte, sendo poderosamente salvo pelo Senhor. Já havia sido
usado para pregar para multidões em diversos templos e nações. Foi
usado em curas, sinais e maravilhas. Era conhecedor da Lei e muito
entendido em culturas e idiomas. Teve um encontro pessoal com Jesus e
uma experiência de conversão inquestionável no caminho de Jerusalém para
Damasco.
Foi arrebatado ao terceiro céu e teve mais experiências
sobrenaturais indescritíveis. Judeu da tribo de Benjamin, circuncidado
ao oitavo dia. Treinado por Gamaliel. Era um apóstolo pioneiro, líder,
visionário, talentoso… Enfim, Paulo estava onde muitos nem chegaram
ainda e já consideram seus ministérios realizados! Paulo estava onde
muitos queiram estar e talvez nunca cheguem – não pela incapacidade, mas
pela falta de visão e outras coisas.
Paulo falava de um ponto na vida
dele, onde nada era surpresa mais, o impossível simplesmente não
existia. – Porém, o mais intrigante ao contemplar Paulo nesse ponto de
sua caminhada é ver que ainda assim, com tanta história e experiência,
ele continua a perseguir algo, ele não considera seu alvo alcançado.
Qual seria então o alvo de Paulo?
“Mas o
que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de
Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a
suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja
causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder
ganhar a Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça
que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça
que procede de Deus e se baseia na fé. Quero conhecer a Cristo, ao poder
da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me
como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição
dentre os mortos.” Filipenses 3:7-11
A resposta está nos versos anteriores.
Paulo buscava a Cristo. Ele considerava a grandeza do conhecimento de
Cristo, o ser encontrado Nele, ser justificado por Ele, conhecer o poder
da ressurreição e participar dos sofrimentos de Cristo para assim poder
dizer que foi um com Cristo e aguardar a esperança da vida eterna
quando tudo isso deixaria de ser eventos em sua vida e se tornariam sua
rotina diária. Sabe por que são raras as pessoas como Paulo nos dias de
hoje? Por causa desse tipo de visão.
Anseios que sejam espirituais.
Todos estão enraizados em Cristo. Valores bem alicerçados, lucro em
Cristo, perda para o mundo. Perder sua vida para poder ganhá-la em
Cristo. Morrer para o mundo para poder viver para Cristo. Quem quer
isso, quem está disposto? Gritamos e cantamos isso nos cultos, mas, o
Senhor poderia nos sondar e provar nossos corações? Estamos dispostos a
nos tornar mártires da fé por amor a Cristo? Estamos dispostos a perder
nossa vida para desfrutar da excelência da grandeza do conhecimento de
Cristo? Estamos ansiosos por compartilhar dos sofrimentos de Cristo?
Oramos isso? Ou pedimos bênção, bênção, bênção, bênção? Como anda a
nossa fé? São tantas perguntas que devemos fazer a nós mesmos antes de
declarar frases que não conseguimos suportar no momento oportuno!
E qual é o nosso alvo?
“Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora…” Mateus 5:29
Sabe de onde vem todo o problema? Do
nosso olhar, nossa visão. O mesmo olhar que não nos permite enxergar a
nós mesmos, é o mesmo olhar que não sabe descrever qual é o alvo da
nossa vida. O nosso olhar. Ele que nos desvia e se alia ao nosso coração
para nos fazer tropeçar. Nossa referência hoje de ministério bem
sucedido muitas vezes é aquele que construiu um grande império ou que
faz bastante sucesso, ou que esteja aliançado com “pessoas-chave” que
sejam influentes o suficiente para prover as oportunidades que o
ministério necessite e descarte a excelência do poder de Deus que Paulo
tanto desejava conhecer. Transferimos nossas fontes para recursos
humanos e questionamos o por quê de Deus não operar nos dias de hoje
como operava no passado.
Sabe por que? Porque naquelas épocas Deus era a
única fonte para Seu povo. Isso era um valor que raramente era
quebrado. Os que esperaram Nele, nenhum foi desamparado. Mas nós
buscamos estratégias humanas para realizar nossa própria sede por
sucesso! O que fez com que Paulo chegasse ao fim de sua caminhada e
ainda estivesse desejoso por alcançar “o alvo pelo qual ele foi
alcançado” era exatamente sua visão. O que ele estava dizendo era que
ele não se esqueceu do que Jesus depositou na vida dele desde o primeiro
encontro que ele teve com Jesus. Ele guardou fielmente o mandamento de
guardar seu coração porque dele procederiam as fontes da vida. Não
permitiu que nada desviasse seu foco e mesmo em meio a lutas e
sofrimentos, ele não desistiu, mas prosseguiu.
Esquecendo-me das coisas que para trás ficam
De que coisas Paulo estava falando? Das
mundanas? Não. As coisas mundanas Paulo já tinha esquecido lá atrás… não
faziam mais parte. Ele já tinha conseguido crucificar sua carne. Às
vezes as pessoas dizem essa frase mas, com outro sentido. No sentido de
que vão esquecer os problemas, a dor, os sofrimentos, as lutas e vão
tentar continuar. Mas, tente ver além através da vida de Paulo, ele não
está se esquecendo das lutas, pelo contrário, ele quer continuar
participando dos sofrimentos do Evangelho, ele está se esquecendo
daquilo que não se encaixa em seu alvo, ainda que sejam coisas boas,
coisas de Deus!
Você abriria mão de privilégios de Deus para alcançar o
objetivo de ter mais de Deus, de conhecer mais Dele e cumprir Sua
vontade? Você abriria mão de algumas noites de sono na cama gostosa que
Ele te deu para estar de joelhos na presença Dele, ou você se convence
facilmente de que Ele te ouve de qualquer jeito? Você abriria mão de
andar em seu carro que Ele te deu para caminhar a pé numa vila visitando
irmãos que precisam de oração? Ou agora você só passa de vidros
fechados perto da vila para não ser assaltado? Nosso Evangelho tem
circulado em torno dessas promessas de que Deus fará sua vida melhor,
sem dúvidas, mas melhor em que sentido? Na visão de quem? Se Deus não te
deu as bênçãos para que você tivesse mais condições de servi-lo, para
que então seria?
Se seus sofrimentos te produzem uma casa própria, você
passa com alegria, mas o sofrimento para conhecer mais a Cristo não vale
a pena, é assim que você percebe ou é loucura minha? Porque não vejo
esse sentimento (nem em unanimidade e em pouquíssimos indivíduos que
conheço, conto nos dedos) aqueles que não perderam a visão. Talvez
porque nem sabiam para onde queriam ir. Talvez porque não tem um motivo
digno para dar suas vidas, ou talvez porque não entendeu o que seja o
verdadeiro sentido da vida que o Evangelho tem para nós. Nossa única
glória é essa, conhecer ao Senhor nosso Deus. Diz o livro de Jeremias
que “o rico não deve gloriar na sua riqueza, nem o sábio em sua
sabedoria, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e
conhecer-me, pois eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com
retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o
Senhor. Jeremias 9:23-24.
Que Ele seja nossa glória. Que possamos
possuir esse desejo contínuo de conhecê-lo e mais, de deixar tudo o que
for preciso para isso. Ainda que sejam coisas que atraiam seu coração e
sua carne. Considere-as como esterco, assim como Paulo, para poder
ganhar a Cristo. Todas as ilusões desse mundo se resumem em vaidade. As
pessoas brigam, humilham umas as outras, se promovem, procuram seu
próprio benefício, se expõem, se vendem, vivem um Evangelho teatral de
euforia baseada em modismos e dizem conhecer ao Senhor e viver no centro
de Sua vontade.
Sem mal saber o que é amor. Entrega. Compartilhar do
sofrimento de Cristo. Perder. Negar a si mesmo. Tomar sua cruz. Seguir a
Cristo e não a homens. Adorar a Cristo e não a homens. Ouvir de Cristo e
não de homens. Como vamos chegar em nosso alvo se mal conseguimos
discernir a voz de Deus? Ouço tantas pessoas dizerem “Deus falou comigo,
Deus falou comigo…” Mas são confusas, não andam, não avançam, fazem
escolhas erradas, não sabem consertar erros, não enxergam o mundo
espiritual, não amam, não reconhecem seus erros, não sabem honrar… Deus
está falando o que? Quem na verdade está guiando nossas vidas? Para onde
estamos indo afinal? Para dizermos como Paulo que estamos seguindo para o alvo, precisamos ter certeza que:
-
O alvo está certo
Ou seja, de que estamos indo na direção certa. Veja que Paulo estava cercado de um “movimento gospel” bem agitado e promissor, mas ele não perdeu o alvo. Se nosso alvo é Cristo, por que buscamos tantas outras coisas? Por que não temos prazer na presença Dele? Por que o maior beneficiado do Evangelho tem que ser a gente mesmo? Por que não abrimos mão de tempo gasto futilmente para dedicarmos a Cristo e Sua presença, Sua Palavra? O que vai acontecer é que seremos confrontados sobre nossa verdadeira motivação, e perder uma vida seguindo o alvo errado do nosso coração, pode nos custar um preço muito alto e talvez irreversível.
Precisamos nos certificar que o caminho que estamos foi determinado por Deus e não por nós mesmos. Permitirmos nos confrontar e ouvir as respostas verdadeiras. Ter a certeza de que não estamos sendo movidos pela vontade do nosso coração ou da nossa carne. Que não estamos agindo por produto de nenhuma carência da nossa alma ou da nossa infância e buscando realizações que sempre quisemos alcançar por vaidade. Vale a pena pararmos tudo e talvez começar de novo para nos certificar que estamos na direção certa, ainda que isso tenha um preço, mas é melhor se arrepender enquanto é tempo do que viver longe do propósito do Senhor e não conseguir mais tomar o controle de sua própria vida. -
Estamos pagando o preço necessário
Se está tudo muito fácil, algo está errado. Precisamos nos certificar de que estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance para alcançar o alvo, mesmo que tudo pareça certo, você discernir que tem algo mais que precisa e pode ser feito. Disciplinar a nós mesmos e retirar da nossa vida aquilo que nos atrapalha, sem parcialidade, sem permissividade emotiva, mas sendo radicais com a gente mesmo se necessário (e geralmente é). Não dá para agradar todo mundo, não dá para ser sempre legal e descolado, você precisa de privacidade, de tempo a sós com Deus, de tempo de oração, devocional, de jejum…
Não dá pra ficar se divertindo o tempo todo curtindo os amigos da igreja, o namorado e a namorada “de Deus” que você tem, a casinha bonitinha que você tem, experimentando roupas e postando as fotos nas redes sociais, não! É preciso se comprometer com o propósito que Deus depositou em sua vida, porque Ele pagou um preço muito alto para que você desfrutasse dele.
Eu e você somos indignos de tudo que temos disponível em Deus, mas essa graça tão maravilhosa não é uma autorização para acharmos que Ele irá impor Sua vontade de maneira arbitrária. Isso significa que você tem que morrer para o mundo e para si mesmo? Sim, quem disse que não? Que podemos curtir o mundo? Deus nos deu promessas a serem desfrutadas aqui desde que estivéssemos no centro de Sua vontade, o mandamento é buscar em primeiro lugar o Seu Reino e Sua justiça que as coisas que precisássemos nos seriam acrescentadas (Mateus 6:33). Nós precisamos amar e desejar Sua vontade em nossas vidas acima de qualquer coisa e pagar o preço necessário para isso, pois o Reino de Deus é tomado no esforço. “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele.” Mateus 11:12 -
Que não nos deixamos corromper.
É necessário ter a certeza de que AINDA estamos no caminho. Sabe, alcançar algumas posições no Reino de Deus nos torna acomodados e pensamos que estamos resguardados por aquele lugar ou título, mas é um engano. Há muitos que estão sobre o altar que já até perderam o temor. Muitos líderes de ministérios, projetos, grupos e bandas. Não podemos sustentar uma posição pela necessidade de manter uma aparência, mas deixar que a humildade preceda tudo que somos e fazemos. Só assim teremos um coração humilde e sincero o suficiente para voltar onde caímos, arrependermos e voltar à prática das primeiras obras.
Se já nos corrompemos, só temos duas opções, ou fingimos e tentamos manter a postura, ou confessamos e voltamos atrás, ainda que para isso precisemos descer daquela posição. Mas, vale muito mais a pena fazer isso e alcançar o alvo do que morrer tendo recebido apenas recompensas humanas. Que você esteja disposto a abrir mão delas se necessário, para buscar uma recompensa muito mais excelente em Cristo Jesus, nosso alvo.
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