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A semente que morre para frutificar

"Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer; dá muito fruto" (João 12.24) 



Jesus extrai aqui uma ilustração baseada na natureza, a fim de ensinar-nos exatamente o que ele queria dizer no versículo anterior: ".. É chegada à hora de ser glorificado o Filho do Homem..." (João 12.23). Uma semente vive, floresce e produz fruto e vida com abundância; mas não enquanto não tiver sido lançada no solo e, passar pela "morte". Assim também sucedeu à vida de Jesus (v.23) e assim deve acontecer com a vida de todo o homem (v.25). Aquele que vive egoisticamente, preservando a sua vida para si mesmo, não pode produzir qualquer benefício, porque é uma semente que jamais foi plantada. Naturalmente o Senhor Jesus salienta aqui outro sacrifício, uma espécie de plantio do próprio "eu", bem como a forma de morte do "eu". Esse é o princípio básico no serviço cristão, de uma vida verdadeiramente produtiva.


Tudo isso é introduzido pela fórmula solene: "Em verdade, em verdade...", que frisa a solenidade, a verdade e a durabilidade da declaração a que está vinculada. O ponto de vista cristão da vida é expresso por Lange, da seguinte maneira: "A natureza humana não atinge, neste mundo, uma aparência verdadeira e essencial mediante o auxílio da poesia e da arte; mas chega ao que é verdadeiro e belo mediante a transferência do indivíduo da morte para uma nova vida (1 João 3.2). O grão de trigo, neste caso simboliza a nova vida que deve resultar da morte, a fim de aparecer em sua riqueza, em seu fruto. No caminho da morte, não somente o grão isolado de trigo se desdobra em muitos, mas esses muitos, na qualidade de fruto para nutrição e nova semente, aparece como um poder infinito, como uma vida universal".



Este comentário de Lange, é muito apto para ilustrar o fato de que Jesus, em sua natureza humana, morreu e foi ressuscitado, tendo ascendido aos céus e tendo sido glorificado; essa mesma vida e processo de glorificação são transferidos aos remidos e eles passam a compartilhar da vida que ele possui: a vida eterna de Deus. Dessa maneira, pois os homens chegam a participar da natureza e da vida de Deus, segundo afirma expressamente a passagem de 2 Pedro 1.14.



Em sua encarnação, Jesus mostrou-se obediente até a morte, e dessa morte flui uma vida abundante, vida essa produzida em todos os crentes autênticos. Além disso, a vida assim transmitida aos crentes é o mesmo tipo de vida que se encontra no Cristo glorificado. Isso subentende a necessidade de uma total transformação e participação de tudo quanto Cristo é e fez, e isso é justamente o que nos ensina os trechos de Romanos 8.29; Efésios 1.23. Dessa forma, muitos filhos estão sendo conduzidos à glória, porquanto a semente plantada se multiplica e produz muito fruto segundo a sua própria espécie; pois essa é a única forma de vida que a mesma é capaz de produzir. O apóstolo Paulo se utilizou da mesma figura simbólica no trecho de 1 Coríntios 15.36-46, ilustrando a vida ressurreta.


O grão de trigo, o mistério da vida por meio da morte. Esse é o segredo da frutificação, e que é repetido em 1 Coríntios 15.32. O sacrifício é a salvação da vida, tal como o egoísmo é o seu embotamento.



É esse processo, aparentemente destrutivo, que exige a fé da parte do semeador, que desencadeia as forças existentes na semente e permite que a mesma se multiplique. Preservar a semente do seu sepultamento no solo equivale a impedir que a mesma atinja seu melhor desenvolvimento e uso. A lei da semente é a lei da vida humana.


Cristo agora diz-nos que enquanto ele continuava na terra, essa vida existia somente em forma de germe; mas quando de sua morte, haveria de irromper e desenvolver-se, multiplicando-se na forma de uma grande colheita espiritual no mundo. Tal é o teor da profecia. A história de tudo quanto é melhor, mais verídico e mais nobre, na vida de vinte e um séculos chega a nós com o seu cumprimento.



A verdadeira semente é aquela que se permite morrer para que uma árvore nasça e produza sombras e frutos. Da mesma forma - algumas vezes - é preciso abdicarmos parcialmente do nosso conforto, se quisermos realizar nosso sonhos. " Cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz". "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto".


A sabedoria de Jesus nos fascina. Sua maneira simples de nos ensinar as coisas mais complexas da vida nos deixa encantados. Os elementos que utiliza para transmitir sua experiência, o jeito que elabora seu pensamento, os exemplos que ele dá são de deixar qualquer mestre ou pedagogo boquiaberto.


No versículo citado, por exemplo, ele utiliza um linguajar típico do homem de campo: grão e terra. Trata-se de um contexto muito peculiar tanto para os homens simples, como para os doutores de seu tempo. Jesus contextualiza, conhece tanto o povo quanto o ambiente no qual esse mesmo povo está inserido. O interessante é que ele nos fala do grão, mas não o dissocia do elemento que o acompanha, a terra. Ele sabe que deve conhecer não só o grão, mas também a terra.


Ficaria sem sentido falar do grão, sem mencionar a terra, pois o grão, para crescer, frutificar, deve ir para a terra. Terra fértil, terra que produz, terra que ajuda no crescimento, terra a partir da qual fomos criados.



Penso que às vezes nos desenfreamos a falar sobre grão e nos esquecemos da terra. Explico: falamos do homem e nos esquecemos de falar de seu meio, de sua cultura. De certa forma, ficamos despercebidos, achando que a "cultura-terra" não tem importância para o crescimento desse "homem-grão".
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